As elites vem nos dominando a milênios usando sempre a mesma estratégia:
Dividir e Conquistar
Não tome lados, somos todos UM. Não permita que suas opiniões e percepções da realidade te afastem da família humana.
A estratégia de dividir e conquistar
da natureza humana tornou-se beligerante(envolvida com guerras) ao
longo da história devido às segregações que ascenderam em todos os
campos da sociedade. A partir do momento em que o homem deixou de olhar
para dentro, investindo toda a sua energia para o mundo da matéria,
iniciaram-se as fragmentações de todas as espécies. Logo, cada ponto de
vista tornou-se a “verdade absoluta”, já que o não entendimento profundo
de si mesmo fez do homem um ser contraído e concentrado, vendo apenas
um ponto do cenário total.
Cada nova criação filosófica, científica ou social tornou-se uma fragmentação. Sendo um ponto de vista isolado, para aqueles que não enxergam uma imagem mais abrangente, cada nova criação adquiriu a condição de inimiga, pois desconstruía a verdade pessoal de cada indivíduo. Deste modo, religiões, filosofias, partidos políticos, escolas de pensamentos, partições científicas, tribos, nações, cores de pele, modos de se vestir, gostos musicais, tudo virou motivo para conflito.
Cada nova criação filosófica, científica ou social tornou-se uma fragmentação. Sendo um ponto de vista isolado, para aqueles que não enxergam uma imagem mais abrangente, cada nova criação adquiriu a condição de inimiga, pois desconstruía a verdade pessoal de cada indivíduo. Deste modo, religiões, filosofias, partidos políticos, escolas de pensamentos, partições científicas, tribos, nações, cores de pele, modos de se vestir, gostos musicais, tudo virou motivo para conflito.
O homem vê um inimigo em tudo, mas não
percebe que não existe inimigo algum, se não a si próprio. Porém apenas
através do autoconhecimento ele irá descobrir que o inimigo é uma ilusão
da própria segregação, sendo então a ilusão de seu próprio eu.
Há novos inimigos surgindo todos os dias
para o homem e nos tempos atuais um deles vem ganhando força. Trata-se
de algo já antigo, mais velho que a maioria daqueles que visam
combatê-lo, cujo principal objetivo é fundamentar a separação do homem
para depois liderá-lo em meio à segregação. Esse inimigo não visa união,
pois através da engenharia social implantou uma desconstrução agressiva
em todas as cabeças da humanidade a fim de surgir como uma solução para
o caos quando necessário.
Unificar a humanidade,porque somos uma
só vida, a liberdade é uma armadilha, mas só é uma armadilha para quem
desconhece a verdade ou seja a maioria! Liberte-se de si mesmo então
liberte os outros deles mesmos,esta é a verdadeira unificação!
A Nova Ordem Mundial que tantos combatem
não tem relação com um mundo unificado. Ela visa centralizar o poder em
um mundo segregado. Há uma grande diferença nisso. Todo o tormento da
raça humana está na segregação. Só quando esta se faz presente é que
somos capazes de maltratarmos uns aos outros de maneira tão vil. Quando
estamos segregados, abdicamos de nossos poderes, gerando situações para
que outros decidam por nós o que fazer e o que pensar.
Há pessoas que são contra a Nova Ordem
Mundial por motivos equivocados e há outras que são contra sem nem
compreenderem o motivo. Ao ouvirem falar em mundo unificado já fazem a
relação com o totalitarismo, pois estão descontroladas pelo medo e pelo
fascínio que o perigo lhes causa.
Porém, mesmo sob um governo mundial o
mundo continuará segregado, portanto não tem relação alguma com a
unidade da raça humana. Quem não entende isso está querendo lutar contra
um fantasma, uma sombra de sua própria sede de enfrentar um inimigo.
Um mundo unificado é a única solução
para nossa civilização sobreviver e evoluir. Enquanto houver barreiras
filosóficas, religiosas, territoriais e culturais, sempre haverá
segregação e conflito. A sua verdade sempre será maior que a minha, o
seu país sempre será melhor que o meu, a sua filosofia sempre será
melhor que a minha.
Mas a questão é que para se escolher
combater a Nova Ordem Mundial é necessário ter a consciência de se estar
lidando apenas com um possível efeito de uma doença mais profunda. Se
você não tiver essa consciência, cedo ou tarde vai se encontrar andando
em círculos e cheio de dificuldades. Porque qualquer combate gera tensão
e mais motivos para se combater.
Logo, não seja contra ela, mas a favor
de purificar a raiz do problema. Prefira semear no coração de cada um a
importância do autoconhecimento, do amor e da tolerância. Pois um mundo
unificado só poderá surgir quando toda a humanidade estiver preparada
para isso. Ele não surgirá pelas mãos de terceiros, mas pelas mãos de
cada ser humano deste planeta.
Apenas em um mundo segregado é que há
chances de um governo totalitário ascender, pois apenas na segregação é
que os seres humanos abdicam de seus poderes. Em um mundo unificado,
cada um é seu próprio líder. Em um mundo unificado, nunca haverá uma
Nova Ordem Mundial.
Trecho do livro Inteligência na Guerra, de John Keegan
1. Conhecimento do inimigo
INTELIGÊNCIA ESTRATÉGICA
“É impossível ter sucesso na condução da
guerra sem informações recentes e de boa qualidade”, escreveu o grande
duque de Marlborough. George Washington concordava: “A necessidade de
obter informações de qualidade é evidente e não precisa ser objeto de
debate”. Nenhum soldado, marinheiro ou aeronauta discordaria deles.
Desde os tempos mais remotos, os líderes militares sempre procuraram
obter informações sobre o inimigo, seus pontos fortes, suas debilidades,
suas intenções e sua organização bélica. Visitantes estrangeiros vindos
de terras que mais tarde Alexandre, o Grande, conquistaria recordam a
insistência de suas perguntas a respeito do tamanho da população em seus
países, da produtividade do solo, da direção dos rios e estradas que os
atravessavam, da localização das cidades, baías e praças fortificadas e
da identidade dos cidadãos importantes, feitas no tempo em que, ainda
menino, ele reinava na corte da Macedônia na ausência de seu pai,
Filipe, em campanha militar no exterior. O jovem Alexandre coletava o
que hoje se chamaria inteligência econômica, regional ou estratégica, e o
conhecimento que acumulou lhe foi de grande utilidade quando iniciou a
invasão do império persa, de enorme extensão e composição altamente
diversificada. O motivo do triunfo de Alexandre foi levar ao campo de
batalha uma força combatente aguerrida, composta de guerreiros tribais
pessoalmente dedicados à monarquia macedônia; mas ele também dividiu o
império persa em partes, atacando seus pontos fracos e explorando suas
dissensões internas.
A estratégia de dividir para conquistar,
geralmente baseada em informações sobre diferentes regiões, explica
muitos dos grandes sucessos na constituição dos impérios. Nem todos: os
mongóis preferiam o terror, confiando em que a notícia de sua
aproximação dissolveria a resistência. Tanto melhor para eles se algumas
traições acentuassem sua temível reputação. Em 1258, surgindo do
deserto, Hulagu prometeu poupar a vida do califa, líder espiritual do
Islã e governante do império muçulmano, se ele entregasse a cidade de
Bagdá. Tão logo se rendeu, o califa foi estrangulado, e a horda
prosseguiu sua marcha. Povo nômade amplamente disperso, os mongóis
possuíam também grande conhecimento e, como todos os nômades, estavam
sempre prontos a comerciar quando não se encontravam em campanha
militar. Os mercados são os principais centros de troca de informações e
de mercadorias, e muitas vezes os saqueadores exigiam permissão para
estabelecê-los nas fronteiras de terras habitadas os hunos faziam essa
demanda aos romanos, o que também era exigido com freqüência pelos
vikings. Era comum que a atividade comercial se transformasse em
prelúdio da pilhagem. O comércio pode seguir o pavilhão, como afirmavam
confiantemente os vitorianos, mas o oposto ocorre com maior freqüência.
Os impérios em ascensão, para os quais
os nômades constituíam mais uma irritação que uma ameaça, adotaram
atitude diversa, concedendo ou retirando permissão para comerciar e
estabelecer mercados em suas fronteiras com o objetivo de exercer o
controle local. Procuravam também adotar políticas “progressistas” e
ativas. Os faraós da XII dinastia não apenas construíram um espesso
cinturão de fortificações na fronteira entre as povoações do Egito e da
Núbia, como criaram um exército de fronteira com instruções permanentes.
Sua missão era impedir incursões núbias no vale do Nilo e ao mesmo
tempo patrulhar o deserto e fazer relatórios. Um dos relatórios,
preservado num papiro em Tebas, diz: “Encontramos rastros de 32 homens e
três jumentos”; apesar de ter quase 4 mil anos de idade, esse relatório
poderia ter sido escrito ontem.
As fronteiras do antigo Egito eram
fáceis de administrar. Como o vale do Nilo é estreito, correndo em meio
ao deserto, as medidas de proteção necessárias eram mínimas. O império
romano, por sua vez, estava cercado de inimigos por todos os lados, os
quais poderiam aproximar-se pelo mar tanto quanto por terra, e precisava
ser defendido por fortificações fixas sofisticadas e também por
exércitos móveis. No auge de seu poderio, os governantes romanos
preferiam a defesa ativa à passiva e mantinham vigorosas forças de
ataque em pontos estratégicos, geralmente a certa distância das
fronteiras e não sobre suas linhas. Somente depois que seu poderio
começou a declinar e os dos estrangeiros a crescer é que as defesas nas
fronteiras foram reforçadas.
Tanto no declínio quanto na ascensão,
entretanto, Roma dedicava grande atenção à coleta de informações. A
conquista da Gália por César decorreu de seu melhor uso das informações e
do poderio bélico superior de suas legiões. Ele se dedicou com afinco a
reunir dados econômicos e regionais, assim como fizera Alexandre, e foi
um analista frio e cínico dos problemas próprios dos gauleses, suas
vaidades, volubilidades, falibilidade e falta de capacidade de
resistência; com a mesma frieza explorava a vantagem obtida por meio do
conhecimento de suas debilidades. Acumulou conhecimentos etnográficos
pormenorizados sobre as características e as dissensões tribais de seus
adversários, os quais utilizou impiedosamente para derrotá-los. Além
dessas informações estratégicas, no entanto, César elaborara um sistema
de inteligência tática altamente desenvolvido, usando unidades de
batedores de alcance curto e médio para fazer reconhecimentos até trinta
quilômetros adiante do corpo principal em marcha, a fim de espionar o
território e a disposição militar do inimigo durante o prosseguimento da
campanha. Um princípio importante era o acesso imediato e direto a sua
pessoa de que gozavam os líderes dessas unidades.
César não foi o inventor do sistema
romano de inteligência, resultado de centenas de anos de experiência
militar. A prova disso já tinha sido fornecida no tempo das guerras na
Gália (século I a.C.), pela existência de numerosos termos que
distinguiam as diferentes categorias de tropas de reconhecimento:
procursatores, que realizavam reconhecimento próximo, imediatamente à
frente do exército; exploratores, batedores de longo alcance; e
speculatores, que faziam espionagem nas profundezas do território do
adversário. O Exército romano utilizava também informantes locais
(indices), prisioneiros de guerra, desertores e civis seqüestrados. Se
não foi ele o inventor do sistema, é lícito atribuir a César a sua
profissionalização e a institucionalização de algumas de suas
características mais importantes, especialmente o direito de acesso
direto e pessoal dos batedores ao comandante. Quando necessário, ele
fazia inspeções pessoalmente, intervenção perigosa porém muitas vezes
essencial. Mais tarde, a crise no século IV passou a exigir a presença
quase contínua de um dos imperadores (nos tempos derradeiros houve dois,
e às vezes mais) junto ao Exército, contingência que em Adrianópolis,
em 378, levou à morte do soberano no campo de batalha, ao desastre
progressivo e ao colapso do Império. O imperador Valente estivera em
contato direto com seus exploratores na manhã da catástrofe, os quais o
informaram corretamente acerca do poderio e da organização do inimigo. O
que ocorreu em seguida corrobora uma verdade profunda e duradoura, a de
que “a sobrevivência militar e política não depende exclusivamente de
uma boa inteligência”.
Mas os sistemas não mudam muito, a menos
que mudem as circunstâncias, e houve pouca mudança circunstancial
durante os cinco séculos de grandeza do império romano (entre os séculos
I a.C. e IV d.C.). Ao longo desse período, o reconhecimento do terreno
se fazia de oitiva ou por observação visual, comunicação oral ou
despachos escritos, e com uma velocidade de transmissão máxima
equivalente à de um cavalo rápido. O que era válido em Roma continuou a
ser a regra no mundo durante os 1500 anos seguintes.
O colapso do governo imperial do
Ocidente no século V d.C. implicou também o colapso dos serviços
organizados de informações e de seus serviços de suporte, como a
publicação de guias e a cartografia (embora os mapas romanos nos pareçam
estranhos, pois geralmente se apresentavam sob a forma de plantas de
caminhos e não como uma figuração bidimensional das características do
terreno, seu desaparecimento representou perda considerável para os
comandantes em campanha). Muito pior do que isso foi a degradação
progressiva e a decadência final e completa do sistema viário. As
estradas romanas haviam sido construídas primordialmente com o objetivo
de propiciar movimento militar rápido, sob qualquer clima, e sua
manutenção era confiada às legiões, que eram unidades tanto de combate
quanto de engenharia. A dissolução do Exército romano acarretou
rapidamente o estancamento das obras de engenharia em elementos-chave do
sistema romano de transportes, como pontes e vaus. Naturalmente, a rede
de estradas não existia durante o período das conquistas romanas César
atravessou a Gália interrogando mercadores e habitantes locais e
improvisando guias, mas foram as estradas que permitiram a Roma defender
seu império durante cinco séculos. Com a deterioração de suas
superfícies firmes, tornou-se impossível fazer campanhas rápidas em
lugares distantes.
Isso não era importante para os chefes
bárbaros que suplantaram os romanos, pois nada mais desejavam senão
manter uma autoridade local. Quando, entretanto, iniciou-se sob os
imperadores carolíngios a tentativa de restabelecer vastos domínios
imperiais nos séculos VIII e IX, a ausência de estradas representou
grave empecilho à reconquista. A situação se mostrou ainda mais difícil
durante a tentativa de penetrar nas regiões germânicas localizadas além
das antigas fronteiras romanas. Naqueles lugares selvagens não havia
caminhos e tampouco era fácil obter informações.
A experiência dos Cavaleiros Teutônicos
em seus esforços para conquistar e cristianizar o litoral do Báltico, no
século XVI, fornece um quadro parcial das dificuldades que os
condutores das campanhas medievais tinham de enfrentar. A ordem de
cruzada dos Cavaleiros Teutônicos, dedicada à conversão dos prussianos e
lituanos, era rica e altamente organizada. Operava a partir de uma
cadeia de castelos fortificados construídos nas costa do báltico, onde
podiam proteger-se de ataques e organizar cruzadas para o interior. Um
dos principais terrenos de suas campanhas era um cinturão de terras não
colonizadas de cerca de 160 quilômetros de extensão entre a Prússia
oriental e a Lituânia propriamente dita, um labirinto de pântanos,
lagos, pequenos rios, vegetação densa e florestas em meio ao qual era
quase impossível encontrar passagem. Os Cavaleiros recrutaram batedores
locais para abrir caminhos e fazer relatórios. As informações por eles
recolhidas foram reunidas num guia militar, Die Lithauischen
Wegeberichte [Guia de caminhos da Lituânia], compilado entre 1384 e
1402. Esse guia mostra, por exemplo, que os Cavaleiros que pretendessem
chegar a Vandziogala partindo da Samogitia, ambas localizadas próximo à
moderna Kaunas, na Lituânia, uma distância de cerca de 56 quilômetros
nas estradas de hoje, tinham de cruzar inicialmente uma região de
vegetação rasteira por uma trilha, depois um grande bosque através do
qual teriam de abrir caminho, em seguida um alagadiço e outro mais; na
seqüência um bosque “do comprimento de um tiro de flecha, em meio ao
qual também será preciso abrir caminho”, e ainda um terceiro alagadiço e
mais um bosque. Mais além estendia-se a verdadeira Wiltnisse [terra
selvagem]. O Wegeberichte reproduz a carta de um batedor prussiano que a
descreveu. Estas são as palavras dele: “Tomai conhecimento em vossa
sabedoria de que, pela graça de Deus, Gedutte e sua companhia voltaram
sãos e salvos e fizeram tudo o que lhes foi ordenado, demarcando o
caminho até cerca de sete quilômetros deste lado do Niemen e ao longo de
uma via que cruza o Niemen e leva diretamente ao campo”. O tom desse
relatório recorda o de uma patrulha egípcia de fronteira na Núbia, 3 mil
anos antes; o terreno descrito é o mesmo que foi utilizado pelo
Grupamento Norte do Exército alemão ao avançar sobre Leningrado em 1941,
encontrando obstáculos não estranhos aos Cavaleiros Teutônicos.
Curiosamente, os cruzados que se
dirigiam à terra santa encontraram muito menos dificuldades para chegar a
Jerusalém no século XI. Em 1394, o grão-mestre dos Cavaleiros
Teutônicos respondeu à pergunta do duque Filipe de Borgonha sobre a
possibilidade de haver uma cruzada báltica no ano seguinte: “É
impossível fazer uma previsão das contingências futuras, especialmente
porque em nossas expedições somos obrigados a atravessar vastas águas e
extensões ermas por caminhos perigosos [...] e por essa razão
freqüentemente dependemos não só da vontade e dos desígnios de Deus,
como também do tempo”. Com palavras diferentes, um agente de informações
contemporâneo poderia responder de maneira quase exatamente semelhante.
Os cruzados da Terra Santa, por sua vez, haviam encontrado um caminho
muito mais fácil para seu avanço, viajando por mar ou pelas estradas
romanas remanescentes na Itália ou nos domínios do imperador romano
oriental (bizantino) no sul da Europa, onde o governo imperial mantinha
as comunicações em bom estado e fornecia suprimentos. Após chegarem a
Constantinopla, recebiam guias e escolta e podiam utilizar as grandes
estradas militares romanas que levavam às montanhas Tauro. No que hoje é
a Turquia oriental, entretanto, então já invadida por migrantes turcos
da tribo seljúcida, vindos da Ásia Central, encontraram mal conservados
os caminhos, assim como as demais obras que facilitavam a viagem:
cisternas destruídas, poços secos, pontes caídas, aldeias abandonadas.
Isso demonstrava de que forma um povo nômade a cavalo havia destruído
uma civilização rural por meio da rapina e do abandono. Os estágios
finais da marcha sobre Jerusalém foram muito mais penosos do que a
partida da Europa.
Em suas campanhas dentro da própria
Europa Ocidental durante a Idade Média, os comandantes de exércitos se
defrontavam com condições que constantemente dificultavam a condução de
operações eficazes. O principal problema era a penúria crônica de
recursos financeiros numa sociedade que não dispunha de moeda corrente, o
que tornava difícil o recrutamento de exércitos e, não raro, quase
impossível supri-los de alimentação e equipamentos. A movimentação era
laboriosa, devido à ausência de um sistema viário utilizável em todas as
estações do ano, mas a falta de informações também afetava os esforços
dos governantes para enviar as forças que conseguiam reunir aos lugares
em que eram necessárias. A dificuldade se tornou especialmente aguda
durante as crises ocasionadas pelas invasões dos vikings no século IX.
Os vikings, que haviam logrado uma revolução nas questões de mobilidade
ao desenvolver barcos superiormente rápidos e capazes de navegar em
alto-mar, apareciam sem aviso prévio, superavam os defensores locais
pela ferocidade de seus ataques e, no segundo estágio do terror que
espalharam nas terras cristãs, levaram a violência e a pilhagem ao
interior mais profundo, ao aprender a capturar grandes quantidades de
cavalos no ponto de desembarque. O antídoto a esses ataques teria sido a
criação de forças navais, mas os reis medievais não tinham capacidade
para fazê-lo. Outro recurso teria sido a manutenção de um sistema de
informações dentro da Escandinávia que fornecesse alerta antecipado,
contudo tal sofisticação era ainda menos compatível com as
possibilidades dos reinos do século IX; além disso, as terras dos
vikings eram inóspitas para estrangeiros curiosos, mesmo que trouxessem
dinheiro para desatar línguas. As pilhagens proporcionavam maiores
ganhos do que a venda de informações, e os vikings gostavam de cortar
gargantas.
Por volta do século XIV, as condições da
guerra na Europa pós-romana haviam se modificado bastante em favor dos
governantes locais. A necessidade imperiosa de debelar a agressão dos
assaltantes nômades os vikings no oeste, os sarracenos no sul e os
cavaleiros que vinham do leste estimulara a construção de defesas fixas,
inclusive barreiras contínuas e cadeias de castelos, que possuíam
fronteiras sólidas, pacificavam as regiões limítrofes e restauravam as
possibilidades de comércio com efeitos benéficos para a prosperidade
geral. Os reis dispunham de dinheiro para pagar seus soldados, comprar
informações e remunerar agentes que se movimentavam com razoável
facilidade em meio aos mercadores itinerantes ou, pelo menos segundo
suspeitavam os governos dos reis, sob o disfarce de ordens religiosas
internacionais. Um sinal de quanto a espionagem se tornara trivial
durante a Guerra dos Cem Anos entre a França e a Inglaterra é o fato de
que os arautos, os árbitros imparciais da conduta adequada nos campos de
batalha, faziam grande esforço para defender sua reputação de
equanimidade. Assim também faziam os embaixadores, embora tivessem menos
credibilidade.
Na metade do século XIV havia extensas
redes de agentes ingleses na França setentrional e nos Países Baixos,
geralmente estrangeiros que trabalhavam por dinheiro, e o mesmo faziam
os franceses na Inglaterra, muitas vezes identificados pela monarquia
como monges expatriados ou frades itinerantes, acusação que hoje em dia é
difícil comprovar. Também é incerto o valor de suas informações. Mais
do que ocorreria em futuras épocas de comunicações aperfeiçoadas, na
Idade Média era difícil transmitir mensagens rapidamente. As estradas
eram precárias, o aluguel de cavalos era pouco confiável e o mar
constituía uma barreira, sobretudo para a transmissão de mensagens da
França para a Inglaterra. Os reis ingleses procuraram tornar o caminho
mais fácil. O porto de Wissant, no norte da França, o mais próximo a
Dover, era ponto de partida costumeiro, em que o preço da travessia era
fixado por lei. Do lado inglês do canal da Mancha o rei mantinha cavalos
a suas expensas para a transmissão de mensagens oficiais. A julgar
pelas evidências disponíveis, esse gasto era compensador. Em 15 de março
de 1360, um domingo, o conselho real reunido em Reading recebeu a
notícia de que naquele mesmo dia os franceses haviam atacado Winchester,
distante 160 quilômetros. Não há evidência, no entanto, de que os
serviços de inteligência tivessem fornecido alerta antecipado.
No mundo medieval, a obtenção de
informações em tempo real era intrinsecamente difícil, exceto para
distâncias muito curtas. Simplesmente não era possível levá-las adiante
do avanço das tropas inimigas com velocidade suficiente. Essa situação
perduraria duranteperduraria durante os séculos vindouros. Por vezes
informações essenciais não eram repassadas nem mesmo no espaço
circunscrito do campo de batalha. Em Lützen, por exemplo, em 16 de
novembro de 1632, uma das batalhas mais importantes da Guerra dos Trinta
Anos, os exércitos imperial (austríaco) e sueco fizeram uma retirada
tática simultânea ao fim do dia. O rei da Suécia, Gustavo Adolfo, fora
morto, e se Wallenstein, o comandante das tropas imperiais, tivesse
renovado o ataque, é provável que os suecos tivessem sido derrotados.
Nenhum dos dois lados, porém, estava a par da movimentação do outro. No
dia seguinte os suecos retornaram, capturaram a artilharia imperial, que
tinha sido abandonada por falta de cavalos para rebocá-la, e
transformaram em derrota o que deveria ter sido uma vitória.
Os exércitos europeus do século XVIII já
haviam se profissionalizado muito mais do que os da Guerra dos Trinta
Anos. Ainda assim, tinham dificuldade em obter informações em tempo
real. A campanha de Frederico, o Grande, em Hohenfriedberg em 1745 foi
excepcional. O exército imperial (austríaco) iniciara uma concentração
ofensiva a fim de recuperar a província da Silésia, que o rei prussiano
tomara ilegalmente em 1740. Frederico ficou sabendo da movimentação em
linhas gerais, mas precisava colocar-se em posição favorável para
resistir ao ataque, fazendo com que o inimigo descesse das colinas que
circundavam a planície silesiana. Sua primeira providência foi utilizar
um agente duplo, funcionário italiano que havia se infiltrado no
quartel-general imperial e que tinha a missão de espalhar a notícia de
que os prussianos estavam batendo em retirada. Frederico ocultou então
seu exército em terreno acidentado e esperou que os austríacos
aparecessem. Estes não fizeram esforços para disfarçar sua movimentação e
isso possibilitou a ele utilizar regras de observação (indices) que,
segundo se sabia na época, eram capazes de proporcionar informações
aproximadas em tempo real quando o inimigo se encontrava à vista. A
poeira era uma indicação importante. “Uma nuvem generalizada de poeira
geralmente significava a presença de saqueadores inimigos. O mesmo tipo
de poeira, sem que se avistassem grupos de pilhadores, indicava que os
vivandeiros e as bagagens estavam sendo transferidos para a retaguarda e
que o inimigo estava prestes a movimentar-se. Colunas densas e isoladas
de pó demonstravam que as hostes já estavam em marcha.” Havia outros
sinais. Num dia claro, o reflexo do sol nas espadas e baionetas podia
ser interpretado a distâncias de até 1600 metros. O marechal de Saxe, o
grande contemporâneo francês de Frederico, escreveu que “se os raios
forem perpendiculares, significa que o inimigo avança em nossa direção;
quando intermitentes e infreqüentes, indicam retirada”.
Em 3 de junho, Frederico havia tomado
posição em um ponto de observação que dominava a planície diante de
Hohenfriedberg. Por volta das quatro da tarde, ele avistou uma nuvem de
poeira através da qual apareceram gradualmente oito numerosas colunas
austríacas que avançavam em direção às posições prussianas iluminadas
pelo sol claro. Enquanto caía a noite, Frederico deu ordem para uma
marcha noturna. Na manhã seguinte teve início a batalha de
Hohenfriedberg.
Apesar de contar com a vantagem da
inteligência, o rei não conseguiu uma vitória fácil. Seu exército estava
em inferioridade numérica e os austríacos e seus aliados haviam
manobrado durante a noite a fim de ameaçar seus flancos. Como muitas
vezes acontece na guerra, a capacidade bélica superior foi finalmente
vitoriosa; o sucesso inicial de inteligência de Frederico foi em breve
sobrepujado. Mas sua rapidez de raciocínio no calor da refrega e a feroz
reação de seus soldados acabaram por mudar o destino da batalha.
Coisa semelhante iria ocorrer muitas
vezes em guerras posteriores. Em suas guerras fora da Europa, em
especial nas florestas norte-americanas, onde índios aliados conheciam
intimamente o terreno e eram mestres na arte do reconhecimento e da
surpresa, os exércitos europeus sofreriam derrotas surpreendentes nas
profundezas dos bosques. O desastre do general Braddock em Monongahela,
próximo à atual Pittsburgh, onde uma numerosa força britânica foi
dizimada em poucas horas em 1755, resultou inteiramente de uma marcha às
cegas para uma emboscada preparada pelos franceses conduzidos por seus
aliados indígenas da América numa floresta não mapeada e sem
reconhecimento prévio. No que ambos os lados passaram a denominar
“guerra ao estilo das Américas”, a inteligência continuou a ser
extremamente valiosa e em geral proporcionava a base para a vitória ou a
derrota. Nos já conhecidos terrenos europeus de campanha, durante as
grandes guerras da Revolução Francesa e do império napoleônico
(1792-1815), a inteligência raramente era por si só responsável pela
vitória. Isso se comprovou verdadeiro até mesmo durante a Guerra
Peninsular britânica contra a França, na Espanha e em Portugal, de 1808 a
1814. As informações, mesmo de boa qualidade, caminhavam com demasiado
vagar para que pudessem proporcionar uma vantagem efetiva em tempo real.
Com efeito, na península Ibérica Wellington dependia exatamente dos
mesmos meios de informação de Cipião em sua campanha contra a Nova
Cartago na Espanha, no século III a.C. A forma de coleta de inteligência
era idêntica tanto para Wellington quanto para César e Cipião. Sua
primeira preocupação era conhecer a topografia do terreno (Wellington
era grande colecionador de mapas e almanaques) e as características do
inimigo. A coleta de informações táticas quem estaria em que lugar e em
que momento, suas intenções e capacidades era feita mensal, semanal e
diariamente.
Em Portugal e na Espanha, Wellington
tinha a seu lado a população hostil à França invasora e que passou a
odiá-la após os excessos de 1808. Por isso não precisava sair em busca
de informações, que lhe eram trazidas em abundância. A dificuldade era
separar o joio do trigo. Muito mais esclarecedora como exemplo de coleta
de informações na era pré-elétrica foi a organização da espionagem
durante o tempo de suas campanhas na Índia ainda não conquistada.
Wellington (Arthur Wellesley) esteve no comando ativo de exércitos na
Índia de 1799 a 1804. Por meio da Companhia das Índias Orientais, a
Grã-Bretanha controlava extensos enclaves em Bengala, Bombaim e Madras,
mas amplas áreas do subcontinente estavam sob o governo de chefes
guerreiros locais ou de hordas que pilhavam à vontade. Com diplomacia,
suborno e intervenção direta, os franceses tratavam de aliciar uma
maioria de elementos antibritânicos. Operando com pequenos exércitos de
composição mista indo-britânica, Wellington preocupou-se sobretudo em
dominar alguns independentes como Tipu Sultan e Hyder Ali, vassalos
feudais do fraco imperador mongol, que comandavam efetivamente seus
próprios exércitos e Estados.
Para sair vitorioso, Wellington
necessitava de um fluxo constante de informações atualizadas, tanto de
fontes próximas quanto distantes, a fim de prever os movimentos de seus
inimigos e antecipadamente ser notificado da ocorrência de mudanças nas
alianças, coleta de provisões, recrutamento de soldados ou outros sinais
de preparação de ofensivas. O meio convencional de obtê-las era a
formação de um corpo de reconhecimento, de soldados já sob comando ou
recrutados da população. Na Índia os britânicos recorreram a outro
método. Aproveitaram um sistema de informações preexistente e o fizeram
seu.
O sistema harkara parece ter sido
exclusivo da Índia. Devido à imensa extensão do subcontinente, à
existência de dificuldades topográficas e à falta de vias de longa
distância, pelo menos até a construção de ferrovias e estradas-tronco do
raj britânico, o poder tendia a ser local. Mesmo depois de centralizado
sob os conquistadores mongóis do século XVI, o poder permaneceu difuso.
Em Delhi os mongóis governavam mediante delegação, tanto por meio de
funcionários provinciais poderosos quanto por arranjos com príncipes
locais, especialmente no oeste e no sul da Índia. O sistema somente
poderia funcionar caso a corte recebesse com regularidade relatórios
sobre os acontecimentos nas cortes secundárias. O provimento acabou por
ser feito por dois grupos de fornecedores de informações: os escritores,
freqüentemente eruditos, de status elevado no sistema de castas da
Índia, e os estafetas, que levavam relatórios e mensagens verbais ou
escritas através de grandes distâncias e em alta velocidade.