"Andando
pelas ruas, Gordon perguntou-se como seriam as pessoas daquelas
casas. Seriam quem sabe, pequenos funcionários, vendedores de lojas,
caixeiros-viajantes, corretores de seguros, condutores de bonde. Será
que sabiam que não passavam de marionetes prontas a dançar assim
que o dinheiro puxasse os cordões? Pode apostar que não. E, se
soubessem, que diferença faria? Estavam ocupados demais em nascer,
casar, gerar filhos, trabalhar, morrer.”
Ainda que menos conhecido do que A revolução dos bichos (de 1945) e 1984 (de 1949), este livro mantém a escrita vívida e irônica de George Orwell. Em A flor da Inglaterra [Keep the aspidistra flying],
o consagrado autor expõe corajosamente as chagas de uma sociedade
desigual, sem apelar para o sentimentalismo, a autocomplacência ou
fórmulas simplistas de nenhuma espécie.
Londres, 1934. Gordon Comstock declara guerra ao "deus-dinheiro".
Chegando aos trinta anos, maltratado pela pobreza e com aspirações
poéticas muito mais altas que a sua capacidade de realizá-las, ele
desiste de um "bom emprego" em uma agência de publicidade para se tornar
um modesto vendedor de uma pequena livraria. Sempre na míngua de
dinheiro, mas orgulhoso demais para aceitar empréstimos de um amigo
rico, Gordon inicia um declínio rápido e aparentemente sem volta ao
inferno da pobreza extrema e da solidão que ela acarreta.Nos quartos de pensão esquálidos que habita, bem como por toda parte do mundinho medíocre da classe média baixa, Gordon topa a todo instante com uma planta doméstica que ele elege símbolo dessa ordem injusta, vazia e massacrante: a aspidistra. Em A flor da Inglaterra, George Orwell criou uma espécie de sátira passional, matizada de humor seco e cortante, sua marca registrada, que provoca imediata empatia em qualquer um que já tenha se visto às voltas com a falta do vil metal.