Van Passen(repórter): É um homem alto, moreno, de traços rudes, filho de humildes camponeses. Já considera os militares rebeldes derrotados?
Buenaventura Durruti: Não. Ainda não os vencemos. Eles possuem Zaragoza e Pamplona, ali onde estão os arsenais e as fábricas de munições. Temos que tomar Zaragoza e depois iremos ao encontro das tropas compostas de legionários estrangeiros que estão no sul sob o mando do general Franco. Dentro de duas ou três semanas nos encontraremos envolvidos em
batalhas decisivas.
batalhas decisivas.
V.P.: Duas ou três semanas?
Durruti: Duas ou três semanas ou talvez um mês. A luta se prolongará no mínimo por todo o mês de agosto. O povo trabalhador está armado. Nessa conjuntura, o exército não conta, há dois campos: dos homens que lutam pela liberdade e os que lutam para derrotá-la. Todos os trabalhadores da Espanha sabem que, se o fascismo triunfar, terão fome e escravidão. Mas os fascistas também sabem o que lhes espera se perderem. Por isso essa luta é implacável. Para nós, é uma questão de esmagar o fascismo de maneira que não possa jamais levantar sua cabeça na Espanha. Estamos decididos a terminar de uma vez por todas com ele, e isso, apesar do governo.
V.P.: Por você fala “apesar do governo”? Por acaso esse governo não está lutando contra a legião fascista?
V.P.: Então você vê dificuldades mesmo depois que os rebeldes sejam vencidos?
Durruti: Efetivamente. Haverá resistência por parte da burguesia que não aceitará se submeter à revolução, que nós manteremos com toda sua força.
V.P.: Largo Caballero afirmou que a missão da Frente Popular é salvar a república e restaurar a ordem burguesa, e você, Durruti, me disse que o povo quer levar para frente a revolução o mais longe possível. Como interpretar essa contradição?
Durruti: Não espero nenhuma ajuda para uma revolução libertária por parte de nenhum governo do mundo. Talvez os interesses conflitantes dos vários imperialismos diferentes possam ter alguma influência sobre nossa luta, é possível. O general Franco está fazendo tudo o que pode para arrastar a Europa para uma guerra. Ele não hesitará em lançar a Alemanha contra nós. Mas no fim das contas eu não espero ajuda de ninguém, nem sequer, em última instancia, de nosso próprio governo.
V.P.: É possível vocês ganharem sozinhos? Tão logo vencerem estarão sentados sobre um monte de ruínas…
Durruti: Nós sempre vivemos na miséria, e nos acomodaremos a ela por algum tempo, mas não esqueça que os trabalhadores são os únicos produtores de riqueza. Somos nós, os operários, que fazemos marchar as máquinas nas indústrias, nós que extraimos o carvão e os minerais das minas, nós que construímos as cidades. Porque não iríamos reconstruir, e ainda em melhores condições, aquilo que foi destruído? A ruína não nos dá medo. Sabemos que não
vamos herdar nada mais que ruínas. Porque a burguesia tratará de arruinar o mundo na última fase da sua história. Porém, nós não tememos as ruínas, porque levamos um mundo novo em nossos corações. Esse mundo está crescendo nesse momento.
vamos herdar nada mais que ruínas. Porque a burguesia tratará de arruinar o mundo na última fase da sua história. Porém, nós não tememos as ruínas, porque levamos um mundo novo em nossos corações. Esse mundo está crescendo nesse momento.