“Só serei verdadeiramente livre quando todos os seres humanos que me cercam, homens e mulheres e animais, forem igualmente livres, de modo que quanto mais numerosos forem os seres vivos livres que me rodeiam e quanto mais profunda e maior for a sua liberdade, tanto mais vasta, mais profunda e maior será a minha liberdade.”
— Mikail Bakunin

Os jovens negros morrem e as mulheres negras também morrem



Já faz um tempo que o movimento negro vem colocando na pauta a discussão sobre o genocídio da juventude negra, criminalização da pobreza e a política de encarceramento em massa promovida em nosso país. Debate duro, difícil, mas que é preciso ser encarado, pois é a realidade de milhares de pessoas no Brasil, incluindo mulheres, sejam as mães daqueles que foram assassinados ou as jovens negras que sofrem com abortos ilegais e inseguros.
Os mais recentes índices de violência demonstram o perfil racial dos assassinatos no país. O número de mortes de jovens negros, entre 15 e 24 anos, é 139% maior do que de brancos. Segundo o Mapa da Violência 2012, entre 2001 e 2010 o número de vítimas brancas, de 15 a 24 anos, caiu 27,5% (de 18.852 para 13.668), enquanto que de vítimas negras aumentou 23,4% (de 26.952 para 33.264).  (ROCHA, Raiza. Ato denuncia o extermínio da população negra em São Paulo)
Porém não é apenas através do recrudescimento da violência policial que vemos a população negra ser exterminada nestas últimas décadas. Importante lembrar da política de esterilização promovida nas periferias, impondo as mulheres uma condição que não foi escolhida por elas e baseada no modelo americano de combate a pobreza que inclui encarceramento em massa, esterilização das mulheres negras e criminalização da pobreza. Aqui talvez o maior arauto deste modelo de extermínio da população pobre e negra seja o governador do Rio de Janeiro: Sérgio Cabral.
A esterilização ocupou lugar privilegiado durante anos na agenda política das mulheres negras que produziram campanhas contra a esterilização de mulheres em função dos altos índices que esse fenômeno adquiriu no Brasil, fundamentalmente entre mulheres de baixa renda (a maioria das mulheres que são esterilizadas o fazem porque não encontram no sistema de saúde a oferta e diversidade dos métodos contraceptivos reversíveis que lhes permitiriam não ter de fazer a opção radical de não poder mais ter filhos). Esse tema foi, também, objeto de proposições legislativas, numa parceria entre parlamentares e ativistas feministas que culminou no projeto de Lei nº 209/91, que regulamentou o uso da esterilização.

Carlos Marighella ( a história de uma mártir Antifascista Brasileiro)


Marighella: o mentor das ações guerrilheiras empreendidas pela Ação Libertadora Nacional.

Um sujeito que viveu a repressão dos regimes autoritários. Essa poderia ser a primeira impressão constatada ao visualizarmos a trajetória do baiano Carlos Marighella. Nascido em 1911, na cidade de Salvador, esse famoso militante político teve a oportunidade de vivenciar o autoritarismo do Estado Novo (1937-1945) e, décadas mais tarde, assistir ao golpe que instalou a ditadura militar no Brasil no ano de 1964.

Sua trajetória política aconteceu nos primeiros anos do governo provisório de Getúlio Vargas, quando participou de algumas manifestações que exigiam a reorganização do cenário político nacional com a elaboração de uma nova Carta Constituinte. Durante os protestos acabou sendo preso pelas autoridades e, com isso, começou a enxergar com importância maior a sua atuação política mediante os problemas sociais e econômicos vividos naquele período.

No ano de 1936, decidiu abandonar seus estudos de Engenharia Civil e se filiou ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), que na época era dirigido por figuras históricas como Astrojildo Pereira e Luís Carlos Prestes. Sua chegada ao partido se deu em uma época bastante complicada, pois, um ano antes, os dirigentes comunistas haviam tentado derrubar Getúlio Vargas com a deflagração da Intentona Comunista. Mais uma vez, Marighella fora alvo das forças repressoras do Estado.

Já na primeira detenção conheceu os métodos escusos com que as forças policiais da época agiam contra os inimigos do regime. Carlos foi brutalmente espancado e sofreu várias torturas ao longo de um mês. Saindo da cadeia um ano depois, prosseguiu em sua luta política buscando aumentar os militantes do ideário comunista. Em 1939, foi mais uma vez preso e torturado, sofreu novas sessões de tortura para que delatasse as atividades de seu partido.

Somente com a queda do Estado Novo, em 1945, Carlos Marighella saiu da prisão para viver uma nova fase de sua luta política. Naquele ano, venceu as eleições como um dos mais bem votados deputados federais da época. No entanto, seguindo instruções políticas do governo norte-americano, o governo Dutra realizou a cassação de todos os políticos que estivessem filiados a partidos de inspiração comunista.

Dessa forma, impedido de atuar pelos meios legais, Marighella continuou a buscar apoio político entre trabalhadores e estudantes. No ano de 1959, o triunfo da Revolução Cubana e a falta de uma ação transformadora pelo PCB levaram o apaixonado idealista a questionar sobre a possibilidade de uma revolução popular armada capaz de transformar o cenário político nacional. Com o estouro da Ditadura Militar, foi mais uma vez perseguido pelas forças policias.

Já no primeiro ano da ditadura, entrou em confronto direto com o regime ao trocar tiros com a polícia e bradar a favor do comunismo. Novamente encarcerado, aproveitou o tempo de reclusão para produzir “Por que resisti à prisão”, obra onde explicava a necessidade de se organizar um movimento armado em oposição aos sombrios tempos da repressão.

No ano de 1967, mais uma vez liberto, resolveu romper com o marasmo dos comunistas para formar com outros companheiros dissidentes a Ação Libertadora Nacional. Essa organização clandestina teria como principal objetivo treinar grupos guerrilheiros com o objetivo de formar um expressivo movimento armado urbano. Após treinar os guerrilheiros na zona rural, o segundo objetivo era arrecadar meio milhão de dólares com a realização de uma série de assaltos a banco na cidade de São Paulo.

Na primeira ação, conseguiu pilhar 10 mil dólares de uma instituição bancária da época. Contudo, a penosa missão de manter esse grupo sob a onipresente repressão militar foi se tornando cada vez mais difícil, principalmente, pela falta de preparo de seus comandados. No ano de 1968, um militante capturado por policias confirmou Carlos Marighella com um dos articuladores daquela onda de assaltos.

Logo de imediato, os meios de comunicação subservientes aos interesses do regime militar distorceram toda a trajetória de lutas de Marighella, descrevendo-o como um “líder terrorista”. No final de 1968, o cerco em torno de Carlos piorou com a publicação do AI-5. No ano seguinte, o seqüestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick reforçou a perseguição sobre todos aqueles que representassem uma ameaça à ordem imposta.

No dia 4 de novembro de 1969, em uma ação planejada pela Delegacia de Ordem Política e Social, Carlos Marighella foi morto na cidade de São Paulo, aos 57 anos de idade. Sua morte representou um dos mais incisivos golpes contra os setores radicas da esquerda nacional e contribuiu para que a Ditadura Militar alcançasse sua própria estabilidade. Somente com a crise do regime, no final da década de 1970, a imagem desse ativista foi redimida como um dos símbolos contra a repressão política no Brasil.


Por Rainer Sousa
Graduado em História

FRANCISCO FERRER E A PEDAGOGIA LIBERTÁRIA¹

link para download de livros:

  ESCOLA MODERNA  E

 O Clero Romano e a educacao laica

                                       I Educação & liberdade

“Se não for libertária,
toda pedagogia é autoritária”

            A pedagogia é uma área de investigação humana na qual predomina, como é o caso da história e da sociologia, uma abordagem política. Este ponto de vista predominante é  facilmente justificável não apenas por causa da reflexão sobre os resultados sociais da educação, ou seja, a questão de saber se o ensino envolve reprodução ou transformação da realidade social, mas também em função nda natureza das relações de poder que permeiam o próprio contexto de ensino-aprendizado. Sendo mais direto e provocador: será que o saber é gerador de assimetrias? Será que só é possível aprender com base na obediência?

Desde a perspectiva anarquista de conceber a política, temos duas formas básicas de relação interpessoal: a vertical e a horizontal. Na primeira forma, predomina um desequilíbrio da relação humana através da sobreposição ou imposição da vontade de um só ou de um grupo minoritário sobre os outros. Temos, portanto, na relação vertical diferentes tipos de dominação e hierarquia. Na segunda forma, temos uma relação baseada no entendimento mútuo, numa associação livre entre sujeitos históricos que se autogovernam, na qual todos os envolvidos participam diretamente da organização das atividades em pauta e na tomada de decisões.
Há uma antiga palavra para descrever este tipo especial de convívio humano: “anarquia”, ou seja, ordem na ausência de dominação exterior.
A realização desse tipo de sociabilidade, de convivência, pode ser constatada em todos os âmbitos da vida humana, incluindo a educação. A pedagogia libertária é fruto do esforço de diferentes anarquistas para criar instituições e estratégias de fomento e difusão de saberes que permitam a realização da educação para a liberdade, através da liberdade. Este campo de processos educativos libertários ilustra de modo bastante claro a máxima libertária de que “os fins já estão inseridos nos meios”.
Um obstáculo central para o projeto de uma educação livre consiste no fato de que vivemos todos numa sociedade amplamente organizada em termos verticais. A necessidade de educação livre surge diante da deformação autoritária que sofremos na vida social. Em todos os espaços sociais encontramos a presença de personagens ou funções impositivas, na família o pai, na escola o professor, na rua o policial, no trabalho o patrão, etc. Somos submetidos desde a infância a uma socialização que está sempre marcada pela ênfase na repetição das assimetrias e na falta de autonomia. Por isso, a pedagogia libertária nunca esteve restrita ao âmbito da escola ou das instituições de ensino.
É necessário modificar a formação humana não apenas na escola formal, mas também na vida familiar e comunitária, na medida em que estamos continuamente aprendendo e ensinando uns aos outros. Ainda assim, a criação de escolas livres e/ou de espaços alternativos como lugar de aprendizagem e intercâmbio de ideias não deve ser subestimado, pois se trata de uma ação direta que abre a possibilidade concreta de aprendizado da liberdade. A pedagogia libertária é necessária não apenas para aprendermos na liberdade, mas para aprendermos a ser livres conjuntamente.
No movimento anarquista, a clareza a respeito da necessidade de escolas e espaços é uma constante que atravessa os contextos históricos e sociais. A educação sempre foi vista como um elemento central para a transformação social, ainda que a contribuição da educação nunca tenha sido isoladamente, nem muito menos encarada como a panaceia universal. De qualquer modo, pressupondo que nenhuma ordem social e política é sustentada apenas na base do chicote e do dinheiro, ou seja, através do poder político e econômico, os anarquistas rapidamente reconheceram a importância da luta ideológica, defenderam o papel da transformação da consciência e da visão de mundo.
Através da transmissão de um sistema de crenças e valores, a família e a escola contribuem de modo bastante essencial para a manutenção da realidade social. Há, por assim dizer, um tipo de escravidão psicológica que deve ser superado juntamente com o fim da exploração econômica e a opressão política.

II  Escola Moderna²

   “Não há educação libertária
que não seja autoeducação”

Dentre as inúmeras experiências históricas de aplicação prática das concepções da pedagogia libertária, pode-se destacar a escola fundada em 1901, pelo pedagogo Francisco Ferrer y Guardia.